Como é o seu trabalho como consultora da felicidade?
Eu trabalho a nível individual e organizacional. A nível individual tenho 2 atividades para ajudar na conquista da felicidade: através de formações on-line e de consultas que podem ser online ou presenciais. As consultas continuam na linha do trabalho que já desenvolvo há vários anos com a hipnoterapia. Esta é uma ferramenta valiosíssima que não serve apenas para tratar memórias de dor que se foram acumulando ao longo da vida, mas também para nos ajudar a atingir objetivos pessoais e profissionais, melhor performance no desporto ou académico, melhorar a autoestima, superar bloqueios de falar em público entre tantas outras situações. Atualmente, há uma busca incessante do sentido, do propósito de vida pelo qual vale a pena viver e que se expressa em tudo. Encontramos agora países preocupados com o FIB – Felicidade Interna Bruta – e não apenas com o PIB, ministérios da felicidade e uma cultura organizacional cuja preocupação é a felicidade de todos os colaboradores, pois finalmente compreendeu-se que um colaborador feliz é mais criativo, produtivo, eficiente e o melhor testemunho da empresa. A ligação emocional à função que um colaborador desempenha é vital para a sua produtividade e realização pessoal. Caso não exista essa ligação é preciso compreender o que está em falta e assegurar uma função mais satisfatória, promovendo formação no desenvolvimento da mesma. Hoje em dia é possível medir a felicidade nas organizações, com enfoque no bem-estar subjetivo do colaborador, na realização profissional, no equilíbrio família/emprego, no salário emocional. Um colaborador feliz e satisfeito é muito importante não apenas para a organização em que trabalha, mas também para a sua família, pois com um bom equilíbrio família/emprego, em termos de horas de trabalho e uma boa gestão emocional profissional, poderá desfrutar de uma maior harmonia familiar e também gerir melhor os desafios que surgem na família. Além disso, será o melhor “embaixador” da sua empresa com os clientes da mesma e com a sociedade em geral. Construir uma sociedade equilibrada requer uma gestão quotidiana começando pelo nível individual. Há pequenos recursos possíveis de oferecer a todos e a custo zero, tais como: reconhecimento do mérito das iniciativas dos colaboradores, mostrar gratidão, elogios, apostar no capital relacional com simpatia e interesse genuíno, saudação pessoal do líder ou gestor, permitir pequenos objetos pessoais no local de trabalho. O meu trabalho a nível organizacional consiste em desenvolver programas que tocam em todos estes aspetos. É possível sentirmo-nos sempre felizes? Sim, é possível. A questão fundamental é a definição ou conceito de felicidade. Para algumas pessoas, a felicidade está ligada ao prazer sensorial – festas, férias, comida, sexo – e este prazer é efémero e a busca para o repor constantemente até gera o oposto da felicidade. Para outros, felicidade é “ser superior”, atingir objetivos na carreira, exibir o melhor troféu, o melhor carro, um marido ou esposa “perfeito”. As carreiras e os trofeus podem ser superados e os relacionamentos precisam de ser nutridos caso contrário esmorecem e terminam por muito “belos” que pareçam nas redes sociais. Há outro tipo de felicidade em relação ao progresso e domínio de si mesmo e que traz realização profissional com uma aprendizagem continua na vida. Temos também a felicidade no contexto de amor com os familiares, amigos, com os animais ou a dedicação a uma causa. Temos a felicidade como sentimento de abundância, em que temos tudo o que necessitamos na vida, pois a vida é perfeita com todas as suas imperfeições e os desafios tornam a vida mais interessante, mais preenchida e sem sentimento de ameaças. Isto são alguns exemplos, mas claro que há muitas mais definições de felicidade pois somos todos diferentes e naturalmente cada um vai ter uma perspetiva. A questão é procurar a forma de viver feliz a maior parte do tempo. Claro que há picos de grande felicidade ou alegria na nossa vida, por exemplo, o dia do casamento. Mas esse êxtase não se mantem assim para o resto da vida, contudo é possível manter um grande nível de felicidade (e mais importante do que a festa do casamento), pelo modo como cuidamos do relacionamento com amor, carinho, respeito, cumplicidade, gratidão pela pessoa que aceitou partilhar a vida connosco e torna-la uma jornada ainda mais bela. Ser feliz é um trabalho em construção diária com os nossos pensamentos, emoções e atitudes perante mim mesma e perante os outros. Por vezes queremos que o outro nos faça sentir felizes e amados, mas eu amo-me a mim? A felicidade é um trabalho interior e invisível. A felicidade também tem diferentes significados ao longo das idades que vamos atravessando. Se perguntarmos a uma criança de 10 anos o que é a felicidade para ela e a uma pessoa de 80 anos teremos respostas muito distintas. Quais são os grandes obstáculos à felicidade? O que as pessoas mais desejam na vida é serem felizes, mas na realidade não pensam muito nisso e acabam por desvalorizar a felicidade em detrimento de segurança financeira, porque têm crenças que a felicidade é passageira, torna as pessoas preguiçosas, egoístas, não põe o pão na mesa (como se dizia muito no século passado) e facilmente é colocado em 2º plano ou 3º ou esquecida vivendo a vida em piloto automático. Além disso as pessoas não se acham merecedoras de serem felizes e terem vidas maravilhosas, têm medo de perder e não serem capazes de lidar com essa perda e ficam numa linha mediana, uma zona intermédia de segurança ilusória. Há algum segredo para ser feliz? Sim, um segredo muito simples: confiar na Vida, confiar que o Universo tem o melhor para mim. Quantas vezes já ficamos zangados por não ter algo que queríamos muito e um tempo mais tarde perceber que afinal até foi bom não ter isso, pois podemos ver resultados menos positivos com outras pessoas dessa mesma situação? Eu confio que sou sempre guiada da melhor forma, mesmo quando não tenho algo, acredito que o melhor virá a seguir. O que é a felicidade para si? Ter a capacidade de aceitar a impermanência da Vida com serenidade, gratidão e amor. Uma das poucas verdades absolutas na vida é que tudo muda e precisamos de fluir com essas mudanças sem resistir. Claro que nem todas são fáceis. Quando temos que enfrentar mortes, doenças, e muitas mais situações, o desafio é muito grande e sem dúvida que precisamos de ver o plano maior, confiar e entregar a segurança da minha vida ao Universo ou ao Divino como quiserem chamar. De acordo com a sabedoria oriental, nenhum ser atravessa o mesmo rio duas vezes, pois aquela água já passou e a pessoa já mudou. Tudo está em constante mudança a cada segundo. Aceitar a impermanência da vida traduz-se em paz, gratidão e felicidade.
0 Comentários
|
HistóricoCategorias |